Sonhos que Ensinam

Sonhos também ensinam

Beatriz Lobo

Em meus sonhos eu tenho asas e voo por muitos lugares, os que eu mais gosto são os voos sobre as águas do mar, sobre as praias, rios e campos, esses sonhos são restauradores. Voei uma única vez de ultraleve, numa visita à cidade do Rio de Janeiro, e para minha surpresa ficar ali suspensa no ar, planando nas correntes do vento, não foi uma sensação nova, foi a mesma sensação que sinto nos sonhos.

Às vezes esses sonhos me surpreendem e um deles virou um pesadelo. Sonhei que estava voando por entre os prédios de uma cidade, ia em direção a uma janela onde havia uma criança que estava à minha espera. Entrei pela janela do quarto e fiquei ali por algum tempo brincando com essa criança. De repente, do prédio ao lado ouvi a voz da minha mãe:

_ Bia, vem pra casa, já está tarde.

O sol estava se pondo, o céu estava lindo com vários tons de laranja. Dei um tchau para a criança e saí voando pela janela. Entrei por outra janela de um outro prédio, e para minha surpresa estava agora na casa em que morei na minha infância. Sentei em minha cama e fiquei ali observando todos os cantinhos daquele quarto, em cada lugar que meu olhar parava havia uma lembrança maravilhosa. Minha mãe apareceu na porta interrompendo meus pensamentos e disse:

_ Levanta da cama limpa e vai tomar um banho, menina. Você passou o dia todo brincando na rua e está suja e suada.

Peguei minha toalha e fui ao banheiro. Na parede do banheiro os  azulejos brancos eram emoldurados com uma barra rosa. No piso branco, formado por pequenos losangos, haviam mosaicos de flores rosas, cravadas uma aqui e outra ali. A pia grande, o vaso, o bidê, a banheira e todos os outros detalhes eram em louça rosa. Eu me sentia muito feliz por estar ali. Abri logo o chuveiro e meu olhar acompanhou a água que batia no piso branco. De repente, minhocas começaram a sair pelo ralo, a princípio achei engraçado, elas também tinham uma cor rosa, pareciam com as minhocas que pegávamos do jardim para servir de isca nas pescarias do meu irmão.

Logo em seguida, comecei a não achar mais graça, as minhocas eram muitas e começaram a vir em minha direção, tentavam subir em mim. Eu pulava e comecei a sentir nojo. Uma delas me chamou a atenção, ela foi crescendo e escurecendo e não era uma minhoca, era agora … um lagarto, meu Deus!!!

Que susto!!! Ele tinha olhos brancos, parecia ter um sorriso de deboche na cara, era assustador. Subi na banheira, que ficava ao lado do chuveiro, ele ia rapidamente crescendo e me ameaçava. Andei pelas bordas da banheira até chegar na porta, abri e pulei no corredor, ele estava atrás de mim e continuava a crescer. Corri, passei pela sala, pela copa, a cozinha, até chegar no quintal, voei para cima do muro, fiquei paralisada pelo medo e ele crescia cada vez mais, comecei a gritar e a chorar. Já era noite, as luzes do quintal estavam acessas. O lagarto já estava enorme, agora era como um dragão cuspindo fogo pelo nariz, eu estava apavorada.

Por causa dos meus gritos, minha mãe veio ver o que estava acontecendo. Chegou no quintal, olhou para mim e sorriu docemente, com toda a calma de sempre. Ela estava ao lado dele e não tinha medo, colocou suas mão sobre os olhos do dragão que foi diminuindo e me disse:

– Minha filha não olhe para ele, quanto mais atenção você der, ele mais vai crescer. Voe querida, continue a voar e busque as coisas do alto.

Acordei assustada, custei a dormir novamente. Quando me levantei pela manhã, minha cabeça doía, meus olhos estavam inchados e me sentia exausta. Não fui trabalhar naquela manhã, dormi por mais umas 3 horas, então, levantei tomei um banho, voltei para o quarto e fiz uma oração, pedi ao Pai que me desse sabedoria e discernimento. Liguei para minha mãe e contei tudo a ela, que me explicou em um tom de voz muito sereno, que o dragão representava em meu sonho os meus medos, os pensamento negativos, a atenção que dou aos julgamentos dos outros, e outras coisas que eu estaria fazendo que não seriam proveitosas ou me acrescentariam algum valor, que simplesmente me desviavam do meu desenvolvimento espiritual. Em resumo, coisas frívolas que eu estava dando muita atenção e deixando de desenvolver meus valores e talentos, destinados a serem usados nesta vida.

Frases da minha mãe:

_ Não tenha medo das ameaças que encontrar pelo caminho, pois o amor de Deus por nós é muito maior que isso.

_ Quanto mais alimentamos o mal que nos cerca, maior ele fica.

 

Escrito em: Vitória, ES – 16 de setembro de 2000.

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